Duas posições sobre o massacre do Carandiru (SPFC Antifascista)

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1992 foi um ano glorioso para o São Paulo FC, com as conquistas de sua primeira Libertadores e de seu primeiro Mundial de Clubes, além dos também internacionais Teresa Herrera, Ramón de Carranza e da Taça Cidade de Barcelona.

Grande ano dentro de campo, catástrofe social fora dele.

O fascista Luiz Antônio Fleury, então governador de SP, promoveu e autorizou o evento que se tornou um marco paulista do genocídio do povo preto: o massacre do Carandiru.

A Torcida Independente, que sempre teve as suas bases enraizadas na periferia, não perdeu tempo: no dia 2 de outubro ocorreu o massacre, no dia 3 foi divulgado o número de vítimas e no dia 4, data de um Majestoso no Morumbi, válido pela 18ª rodada da primeira fase do Paulistão, na época ainda disputado no segundo semestre do ano, já havia uma faixa preparada pela torcida, denunciando o crime do Estado de SP.

“QUEM FALARÁ PELOS 111?”, questionava a faixa da nossa organizada, que deu início a um dos eventos mais comentados entre as torcidas naquele ano. A polícia se revoltou, proibiu a entrada da faixa no estádio, rasgou-a até estar completamente destruída e agrediu seus portadores a golpes de cassetete, pontapés e coronhadas. Batalha campal entre policiais e integrantes da Independente na entrada do Morumbi antes do início do clássico.

Acalmados os ânimos, o jogo transcorreu sem maiores tumultos, mas também sem a faixa, e o São Paulo FC aplicou um sonoro 3×0 sobre o Corinthians, gols de Müller, Palhinha e Ivan.

Em 1 de dezembro do mesmo ano, tivemos o nosso clássico seguinte, o Choque-Rei, válido pela 26ª rodada da primeira fase do Paulistão e disputado no Morumbi, apesar do mando de campo do Palmeiras.

Eis que a Mancha Verde, escancarando desavergonhadamente o seu viés ideológico elitista, abriu uma faixa na arquibancada do Morumbi com os dizeres: “… ONDE ESTÁ O DIREITO DAS VÍTIMAS DOS BANDIDOS? ESTAMOS COM A P.M.”

Engraçado que, entre muita porrada, a justificativa da PM para destruir a faixa da Independente foi que “não seriam permitidas QUAISQUER manifestações sobre o episódio nas arquibancadas, por ele ainda estar sob investigação”, mas a da Mancha entrou no estádio e foi aberta tranquilamente, sob os olhares coniventes dos policiais.

Revolta geral na Independente, cujo muitos integrantes perderam familiares e amigos no massacre. Para piorar, tomamos uma sacolada: 3×0 para os porcos, fora o baile, gols de César Sampaio e Evair, que fez dois.

O troco veio dentro de campo. Quiseram os deuses do futebol que a final daquele ano fosse disputada exatamente entre São Paulo FC e Palmeiras, o time da torcida organizada que mais se empenhou em denunciar o massacre dos 111 detentos do Carandiru contra o daquela que apoiou o crime.

As duas partidas foram disputadas no Morumbi e duas vitórias, a primeira por 2×4, com mando do Palmeiras, e a segunda por 2×1, com mando nosso, garantiram o título tricolor. 6×3 no placar final e um pouco da memória dos 111 vingada.

Vocês não têm noção do quanto parecem tolos e desconectados da realidade das arquibancadas quando, diante das nossas críticas pontuais a setores específicos da torcida palmeirense, vêm aqui evocar movimentos surgidos recentemente, como a Palmeiras Antifascista ou a Porcomunas, que nada têm a ver com o nosso histórico com os caras, ou quando pagam de isentões dizendo que “torcida organizada é tudo igual”.

A história da richa é extensa, antiga e evidencia, a cada novo episódio, os lados. Nós corremos pelo certo.

Hoje, sabemos, a bomba estouraria em 1995, durante a final da Supercopa São Paulo de Juniores, no Pacaembu.

Para a grande mídia, apenas um monte de bárbaros se digladiando, sem contexto, mas quem vivenciou o período conhece a trajetória que levou à barbárie.

Nunca esquecer os 111. O Estado não tem o direito de massacrar seus cidadãos julgados, condenados e cumprindo pena nos rigores da lei.

CONTRA O JUSTICEIRISMO DA PM! PELO FIM DO GENOCÍDIO DO POVO PRETO!

“Sem padre, sem repórter;
sem arma, sem socorro;
Vai pegar HIV na boca do cachorro;
Cadáveres no poço, no pátio interno;
Adolf Hitler sorri no inferno!”

Texto da SPFC Antifascista

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